sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Cristão e a Homossexualidade

A maioria dos cristãos ainda sente desconforto com relação à homossexualidade. Mesmo homossexuais cristãos freqüentemente compartilham esta inquietação, porque todos temos sido educados na mesma tradição cristã. Há muitas causas para este desconforto, mas a cause que parece mais saliente na mente de todos é a convicção de que a Bíblia condena a homossexualidade em si mesma e em todas as suas formas de manifestação.
Uma lenta mudança começa a ocorrer nos dias atuais, felizmente. Alguns cristãos, enquanto mantêm a atitude tradicional, têm começado a admitir que não é necessário, na sociedade atual, punir os homossexuais pelo comportamento que é permissível aos heterossexuais. Com base nisso, muitas comunidades cristãs têm feito manifestações formais de apoio ao direito de pessoas homossexuais à proteção contra a discriminação, principalmente na Europa e na América do Norte.
Alguns cristãos têm ido além disso e reconhecido que a hostilidade com a qual algumas pessoas têm atacado e condenado atos homossexuais e pessoas homossexuais é totalmente injustificado. É importante atentar para a relativa importância dada ao comportamento homossexual na Bíblia e, especialmente, observar as atitudes de um cristão quando convive com outros seres humanos, sejam eles homo ou heterossexuais. Alguns teólogos e um número de homossexuais cristãos trabalhando a partir de um crescente entendimento dos textos bíblicos, chegaram à conclusão de que a Bíblia não exclui os homossexuais da fraternidade cristã, dentro de limites análogos àqueles aplicados aos heterossexuais.
A Bíblia menciona o comportamento homossexual, a partir das interpretações de seus tradutores, em termos extremamente negativos, num punhado de versos amplamente espalhados, mas pesquisas modernas têm aumentado consideravelmente a dúvida evidente sobre a interpretação tradicional destas passagens - uma interpretação que tem trazido trágicas conseqüências para homossexuais através de quase toda a história cristã. O propósito, aqui, é examinar esta evidência, junto com a luz que a ciência tem derramado sobre o desenvolvimento psico-social, na esperança de que ela guiará para uma avaliação mais perfeita das escrituras.
A maioria das pessoas cresce desejando e procurando um relacionamento íntimo e amoroso com uma pessoa do sexo oposto. Homossexuais, por outro lado, são aqueles que descobriram que seus desejos convergem em direção à pessoas do mesmo sexo. Como e porque esta variante ocorre ainda não é possível explicar tendo, provavelmente, conseqüência a partir de  uma ampla ordem de fatores, alguns dos quais são ambientais e alguns, possivelmente, hereditários ou físicos. O que é importante, entretanto, do ponto de vista do pecado, é que a maioria dos homossexuais não tem recordação de jamais terem escolhido esta orientação sexual, tanto quanto os heterossexuais têm consciência de ter escolhido desejar o sexo oposto. Trata-se apenas de uma inclinação emocional, uma parte integrante da personalidade. E estes indivíduos sentem que nada na terra jamais mudará isto, assim como os heterossexuais não podem se imaginar transformando-se em homossexuais.
A verdade é que, ao que tudo indica, a sexualidade humana é livre e solta, e que um interesse emocional se desenvolve muito cedo na vida e que este interesse, então, vem cada vez mais à tona, à medida que a puberdade e a adolescência afloram certas fantasias e determinados comportamentos sexuais.
A razão, conseqüentemente, do porquê dos homossexuais procurarem contato íntimo com indivíduos de seu próprio sexo não reside no fato de serem pervertidos ou luxuriosos, mas sim porque sua natureza íntima - a natureza que Deus lhes conferiu - não lhes permite viver o padrão de vida heterossexual. Para os homossexuais, tentar viver uma vida tipicamente heterossexual é viver dentro de uma mentira, um atentado moral e espiritual contra seu parceiro e contra si mesmos. Tal relacionamento não satisfaz a função de que deve ser alcançada por todo tipo de envolvimento entre duas pessoas: satisfação, alegria, prazer, respeito e afeição. Diferentemente dos heterossexuais, os homossexuais se sentem completos apenas por uma pessoa do mesmo sexo.
Isto não significa que homossexuais não possam se envolver em práticas sexuais de cunho heterossexual. Muitos podem praticar sexo heterossexual, assim como muitos heterossexuais são capazes de se envolver em atividades homossexuais. Mas se tiverem a oportunidade de escolher, preferirão um parceiro do mesmo sexo, não por mera perversão, mas porque somente um parceiro do mesmo sexo os satisfaz emocionalmente. Para que aja pecado - ou seja lá como chamam os religiosos - deve haver uma possibilidade de escolha moral. Onde não há escolha não pode haver pecado. Assim, se a orientação sexual não é uma questão de escolha do indivíduo, não pode ser pecado ser homossexual, da mesma forma que não é pecado ser heterossexual. Se a homossexualidade - a orientação - é um pecado, o comportamento heterossexual também seria.
Na verdade, os cristãos heterossexuais devem ter cuidado para não agirem da mesma forma que os Fariseus do passado, legando para seu semelhante um fardo que eles próprios não teriam como suportar.
Em síntese, a Bíblia parece, claramente condenar apenas 03 coisas com relação à homossexualidade:
01. o estupro homossexual;
02. o ritual envolvendo prostituição homossexual e que fazia parte do culto da fertilidade dos cananeus e que alguns judeus passaram a idolatrar antes da Lei de Levíticus;
03. luxúria e comportamento homossexual da parte de indivíduos heterossexuais. Sobre o tema da homossexualidade como uma orientação, e sobre o comportamento consensual de pessoas que possuem esta orientação, a Bíblia faz completo silêncio. A orientação em si era, aparentemente, desconhecida ou pelo menos não reconhecida pelos autores bíblicos. Somente a partir de 1890 a ciência da psicologia começou a reconhecer a homossexualidade como uma entidade distinta.
A visão bíblica da homossexualidade pode depender, enormemente, da visão particular da Escritura. Para excluir a homossexualidade da cristandade, algumas pessoas utilizam a "prova textual". É a mesma técnica utilizada no passado para sustentar outras formas de intolerância, como por exemplo, a escravidão. Citações da Bíblia são usadas ainda hoje para justificar a discriminação contra as mulheres e minorais raciais. A prova textual é o uso de uma Escritura que parece demonstrar um certo tópico como prova da opinião de Deus concernente àquele tema. Entretanto, três coisas são ignoradas na prova textual:
- o contexto cultural da escritural original;
- o sentido original da língua da época em que foi escrita;
- as mensagem completas que circundam o texto e aparecem através do corpo completo da Bíblia.
Devemos conhecer o contexto social no qual as palavras do texto foram escritas, qual era a sociedade para a qual o texto foi escrito, qual a sua cultura, que situação específica originou o texto, como o texto relata a completa visão do autor, como ele é visto à luz de toda a mensagem bíblica, como se relaciona com todos os demais textos, se ocorrem  divergências entre os autores etc.
Muitos, num certo sentido, interpretam a Bíblia à luz da linguagem e do tempo no qual ela foi escrita. Por exemplo, a Bíblia diz "olho por olho, dente por dente", ou "se tua mão direita te serve de escândalo, corta-a e lança-a fora de ti"(Mateus 5:39-30). Nos dias atuais é muito difícil encontramos pessoas de um olho só ou pregadores de um braço só reforçando estes preceitos.

FONTE: www.icmsp.org

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Igreja e os homossexuais. Entrevista com Luís Corrêa Lima

“Conheço pessoas gays que estão profundamente convencidas de que Deus as fez assim, e não se envergonham do que são”, diz o professor da PUC-Rio sobre os homossexuais.

Confira a entrevista.



Luís Corrêa Lima é doutor em História e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro -PUC-Rio. É nesta instituição que pesquisa questões como a diversidade sexual. “A universidade católica é, antes de tudo, ‘universidade’, ou seja, um universo onde diversos saberes podem se encontrar, um espaço aberto à totalidade. No ambiente acadêmico é natural a pluralidade ideológica, que permite pensar a complexidade da realidade e a sua conflitividade”, contou ele, na entrevista que concedeu à IHU On-Line, por e-mail. Corrêa Lima tratou de temas como a relação da Igreja com questões como homossexualidade, experiência humana, novos modelos de família e uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo. “Desde o final do século passado, há um número considerável de divorciados recasados formando um novo modelo de família. Em uma região da Alemanha, os bispos escreveram uma carta pastoral sobre este assunto, mostrando abertura. Hoje aumentam as famílias homoparentais, que têm como responsável um casal gay”, relatou.

Formado em Administração, Filosofia e Teologia, Luís Corrêa Lima também é mestre em História Social da Cultura pela PUC-Rio, onde é professor desde 2004, e doutor em História pela Universidade de Brasília - UnB. É autor de Teologia de Mercado - uma visão da economia mundial no tempo em que os economistas eram teólogos (Bauru: EDUSC, 2001).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O senhor trabalha a questão da homossexualidade e religião em suas pesquisas. Como é tratar desses assuntos sendo professor e pesquisador de uma universidade católica?

Luís Corrêa Lima – A questão da homossexualidade é multidisciplinar, conectando-se com vários âmbitos, incluindo o religioso. A religião traz consigo uma visão de mundo e tem importante incidência na sociedade. Ela pode ser fonte de
homofobia e de hostilidade à diversidade sexual, e também pode ser benéfica, ajudando as pessoas a amarem a si mesmas como criação divina e a darem um sentido amoroso e transcendente às suas vidas.

A universidade católica é, antes de tudo, “universidade”, ou seja, um universo onde diversos saberes podem se encontrar, um espaço aberto à totalidade. No ambiente acadêmico é natural a pluralidade ideológica, que permite pensar a complexidade da realidade e a sua conflitividade. A universidade católica não é um setor de uma paróquia, onde pessoas piedosas estudam autores edificantes. A pluralidade ideológica é constitutiva da vida acadêmica, e é também a sua riqueza. Aliás, “católica” significa universal, o que remete à mesma totalidade e abertura. O que mais se opõe à catolicidade é o espírito de seita, isto é, a crença que indevidamente exclui, tornando-se bitolada e arrogante.

A
homossexualidade é um assunto delicado, na sociedade e em diversas instituições. Não é raro encontrar resistências ou temores. Mas com firmeza e delicadeza, este assunto pode ser pautado. Na universidade, mesmo católica, a dimensão acadêmica dá respaldo à pesquisa, bem como a publicações, teses, grupos de estudo, cursos e eventos.

IHU On-Line – A Igreja de hoje consegue trabalhar a partir do caráter histórico e cultural próprio da experiência humana?
 
Luís Corrêa Lima – Na Igreja há uma multidão de povos e culturas. Na sua história bimilenar, há uma grande riqueza em processos de adaptação, inculturação da fé e fomento de transformações. O risco de se afastar do caráter histórico e cultural da experiência humana, existe de fato ao se adotar uma concepção de lei natural entendida como um código detalhado, universal e imutável, reconhecido e ratificado pela autoridade eclesiástica. Aí, sim, há risco de engessamento.

Outra maneira de se conceber a lei natural é como uma racionalidade presente na natureza, obra do Criador. Racionalidade esta que é compreensível pela reta razão em diferentes culturas e contextos. O entendimento desta lei e da
responsabilidade humana, afirmou certa vez o papa Bento XVI, requer um “diálogo fecundo entre crentes e não-crentes; entre filósofos, juristas e homens de ciência”. Desta maneira, prossegue ele, pode-se oferecer também aos legisladores um material precioso para a vida pessoal e social. Neste caso, no entanto, não se trata de questões fechadas e de conclusões definitivas. O próprio crente, incluindo o papa, é um interlocutor do diálogo. E para que este diálogo seja fecundo, é preciso ouvir com atenção vozes diversas. A tarefa não é fácil e nem sempre o magistério consegue.

IHU On-Line – Como o senhor vê os novos modelos de “família” de hoje e como essas famílias se relacionam com a religião?

Luís Corrêa Lima – A família e o casamento mudaram bastante ao longo da história. Nos tempos bíblicos, a mulher era propriedade do marido ou do pai, assim como a casa, o escravo e o jumento. O casamento era um acordo entre famílias, prescindindo do consentimento dos cônjuges. A função da esposa era gerar descendentes para a família do marido. Caso ficasse viúva e sem filhos, ela teria que se casar com o cunhado para cumprir esta função. No século XII, a tradição ocidental introduziu o consentimento dos cônjuges como condição necessária e suficiente para a validade do casamento. No século XX, o modelo patriarcal de família declinou em todo o mundo. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, estabeleceu o livre consentimento e direitos iguais entre marido e mulher. A Igreja Católica, no Concílio Vaticano II, louva as nações que promovem a
igualdade do homem e da mulher na sociedade. A mudança é enorme e o processo continua.

Desde o final do século passado, há um número considerável de divorciados recasados formando um novo modelo de família. Em uma região da Alemanha, os bispos escreveram uma carta pastoral sobre este assunto mostrando abertura. Hoje aumentam as famílias homoparentais, que têm como responsável um casal gay. Os bispos norte-americanos se depararam com esta questão. Eles são contra a adoção de crianças por casais do mesmo sexo. No entanto, aprovaram o batismo de crianças sob a responsabilidade destes casais, desde que haja o propósito de educar as crianças no catolicismo. E muitas escolas católicas nos Estados Unidos recebem estas crianças. Em vários lugares, elas convivem com outras crianças sem problemas ou reclamações dos pais. As mudanças na sociedade contribuem para a boa aceitação e convivência. As mudanças na Igreja, por sua vez, dependem em grande parte do contexto social das comunidades locais e de sua abertura pastoral.

IHU On-Line – Por que grande parte dos católicos não encoraja as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, quando temos exemplos tão claros de que essas relações são mais leais dos que as relações heterossexuais?

Luís Corrêa Lima – Comecemos pelo inverso, que é menos conhecido. No ano passado, o novo presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, Robert Zollitsch, declarou-se a favor da união civil homoafetiva. Ele considera uma questão da própria realidade social: se há pessoas com orientação homossexual, o Estado deve adotar uma legislação correspondente. E efetivamente a Alemanha reconhece esta união desde 2002. Convém notar que um presidente de uma conferência nacional de bispos não faria uma declaração destas sem o respaldo dos outros bispos do país, e sem um amplo consenso da igreja local. E isto se dá na terra do papa.

Já na Itália, um importante grupo de jesuíta apóia as uniões gays. Em junho de 2008, a prestigiosa revista da Companhia de Jesus, Aggiornamenti Sociali, publicou o estudo de um núcleo católico de bioética com sede em Milão. Este núcleo defende que a c
onvivência entre duas pessoas do mesmo sexo é benéfica para a vida social. E em uma relação duradoura, devem-se reconhecer direitos e deveres a quem oferece cuidado e sustento ao companheiro, independentemente de que a intimidade entre eles seja sexual ou não. Ao político católico, acrescenta, é justificável votar a favor deste reconhecimento.

Na verdade, nós estamos vivendo uma mudança de paradigma antropológico. Havia uma heterossexualidade universal, ou heteronormatividade, uma suposição de que todo ser humano é feito para o sexo oposto, de que só com alguém de outro sexo se pode constituir uma união sadia, base de uma família respeitável. A
homossexualidade foi considerada doença até o início dos anos 1990. Isto ainda está arraigado na sociedade e nas estruturas mentais, que incidem na religião. A Igreja tem dois mil anos, e o peso da tradição é muito forte.

O cardeal Carlo M. Martini, fazendo um balanço de sua vida, declarou: “Entre os meus conhecidos há casais homossexuais, homens muito estimados e sociáveis. Jamais me foi perguntado e nem me teria vindo em mente condená-los”. Demasiadas vezes, prossegue ele, a Igreja tem se mostrado insensível, principalmente com os jovens nesta condição. Certamente Martini foi formado em uma outra mentalidade bem diferente. Ele mudou ao encontrar estes casais, ao ver que eles não são uma ameaça para a sociedade. Isto é que pode fazer as pessoas mudarem, e verem que também as instituições devem mudar.

IHU On-Line – Como o senhor vê a fé de uma pessoa homossexual?

Luís Corrêa Lima – É uma fé que rompe barreiras. Conheço pessoas gays que estão profundamente convencidas de que Deus as fez assim, e não se envergonham do que são. A barreira a ser vencida é a heteronormatividade, a suposição de que só os héteros correspondem ao desígnio divino e que só eles podem ser aceitos socialmente. Muitas vezes a aversão aos
homossexuais, a homofobia, não só está disseminada nos ambientes mas também internalizada nos próprios gays. Daí decorre uma baixa autoestima e uma enorme culpabilização, que não são raras e podem levar os gays à depressão e mesmo ao suicídio.

Quando a pessoa se aceita como ela é, Deus pode ser conhecido e amado como fonte do amor incondicional. E aí um novo caminho se abre. O jugo leve e o fardo suave oferecidos por Cristo podem ser carregados, e os que estão cansados e sobrecarregados podem ser aliviados. Quando a diversidade sexual é reconhecida não como um desvio, mas como um aspecto da realidade humana (e mesmo animal), pode-se ter uma outra compreensão da própria criação. As diversidades, que são tantas na criação sob as mais diferentes formas, apontam para a diversidade existente no próprio criador, no ser divino que não se vê. No Deus único há diferentes pessoas em comunhão: Pai, Filho e Espírito Santo profundamente unidos desde toda a eternidade. A diversidade na Santíssima Trindade se reflete na variedade da criação.

IHU On-Line – O vice-presidente da CNBB, Luís Soares Vieira, afirmou que homossexuais podem ser padres desde que sejam celibatários. Como o senhor vê essa questão?
 
Luís Corrêa Lima – A aptidão de pessoas homossexuais para o sacerdócio é corroborada pelo ex-superior geral dos dominicanos, Timothy Radcliffe. Ele trabalhou em todo mundo com bispos e padres, diocesanos e religiosos. Radcliffe não tem dúvidas de que Deus chama gays ao sacerdócio. E afirma que eles estão entre os sacerdotes mais dedicados e impressionantes que encontrou. Por isso presume que Deus continuará chamando ao sacerdócio tanto gays, quanto heterossexuais, porque necessita dos dons de ambos.

As reticências no acesso dos gays ao sacerdócio decorrem da homofobia presente na sociedade e na Igreja, que gera desconfiança. Um documento romano de 2005 determina o veto dos candidatos que apresentam “tendências homossexuais profundamente enraizadas”. Não se define o que sejam estas tendências, mas se afirma que elas são um grave obstáculo para um correto relacionamento com homens e mulheres. Convém lembrar que a última palavra sobre a ordenação cabe ao bispo local ou ao superior religioso, depois de ouvir os encarregados da formação.

Alguns bispos entendem que não se trate de quaisquer tendências homossexuais, mas apenas daquelas que sejam um grave obstáculo para o correto relacionamento de um padre celibatário com os fiéis. Outros afirmam que a vocação presbiteral contém o senso de uma paternidade humana e espiritual que um homossexual não possui. Por isso ele não deve ser admitido mesmo que viva uma
castidade perfeita e uma conduta exemplar. Felizmente o vice-presidente da CNBB adota a primeira posição. Um novo documento romano, de 2008, retoma a questão suavizando a resistência: o candidato deve ser vetado se não “enfrentar de modo realista” suas tendências homossexuais. A postura intransigente perde terreno.

De qualquer maneira, a auto-estima do seminarista ou sacerdote homossexual é muito bombardeada em meio a esta polêmica. É preciso que haja um ambiente de confiança onde ele possa admitir a sua condição, ainda que apenas para si mesmo, para seu orientador espiritual e para seu superior. E que possa conversar, refletir e orar sobre isto. Caso contrário, a homossexualidade enrustida terá efeitos devastadores em si mesmo e nos outros. Faltam modelos explícitos de santidade homossexual, nos quais as pessoas possam se inspirar.

IHU On-Line – É possível entender a homossexualidade a partir de uma visão que não esteja vinculada ao desejo?

Luís Corrêa Lima – O conceito de
homossexualidade é do século XIX. Na antiguidade, um indivíduo que tinha relações com pessoas do mesmo sexo não constituía uma categoria, não era classificado segundo esta prática. Isto se dá no Ocidente com a associação das relações entre pessoas do mesmo sexo e o pecado de Sodoma. O indivíduo que praticava este tipo de relação foi designado como “sodomita”. Esta classificação é intrinsecamente religiosa e moral, pois se trata do autor de um pecado gravíssimo e abominável que clama por punição divina. Já “homossexualidade” é um conceito moralmente neutro, pois desloca o homoerotismo do campo religioso condenatório para o campo médico, ainda que da patologia. O pecado abominável se torna antes de tudo uma doença. E assim permanece até o final do século XX.

Nesse meio tempo o
movimento social homossexual adotou o termo “gay”, que já existe há alguns séculos, e significa alegre. É uma maneira positiva de se ver e de se enunciar. O amor entre pessoas do mesmo sexo também pode ser entendido como “homoafetividade”. Já se fala em direito homoafetivo, e muitos cartórios emitem um documento declaratório de convivência homoafetiva. A vantagem sobre o termo homossexualidade é que sexo frequentemente enfatiza a genitalidade, enquanto afetividade é bem mais ampla, incluindo o relacionamento com o outro e o seu bem.
FONTE: http://www.ihu.unisinos.br/

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A ESCANDALOSA TOLERÂNCIA DE JESUS

“Se nos atemos ao que contam os Evangelhos, nos surpreendemos com o fato de que Jesus foi escandalosamente tolerante com pessoas e grupos com os quais nenhum homem, reconhecido como observante e exemplar do ponto de vista religioso, podia ser tolerante. Ao mesmo tempo em que se mostrou extremamente crítico com aqueles que se viam a si mesmos como os mais fiéis e os mais exatos em sua religiosidade”, escreve José María Castillo, teólogo espanhol, em seu blog Teología sin Censura, 06-02-2011. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.
Se nos atemos ao que contam os Evangelhos, nos surpreendemos com o fato de que Jesus foi escandalosamente tolerante com pessoas e grupos com os quais nenhum homem, reconhecido como observante e exemplar do ponto de vista religioso, podia ser tolerante. Ao mesmo tempo em que se mostrou extremamente crítico com aqueles que se viam a si mesmos como os mais fiéis e os mais exatos em sua religiosidade. Jesus foi tolerante com os publicamos e pecadores, com as mulheres e com os samaritanos, com os estrangeiros, com os endemoniados, com as multidões dos gentios (óchlos), uma palavra dura que designava a “plebe que não conhecia a Lei e era maldita”, no juízo dos sumos sacerdotes e dos fariseus observantes (Jo 7, 49; cf. 7, 45).

E é curioso, mas essa gente é a que aparece constantemente acompanhando a Jesus, escutando-o, buscando-o... Os relatos dos Evangelhos são eloquentes neste ponto concreto e repetem muitas vezes que o “gentio”, a “multidão”... buscava a Jesus, que a ouvia, a que estava perto dele. E aquela mistura de Jesus com os “gentios” chegou a ser tão angustiosa, que até a família de Jesus chegou a pensar que ele havia perdido a cabeça (Mc 3, 21). Jesus compartilhava mesa e toalha com os pecadores, o que dava pé a murmurações por causa de semelhante conduta (Lc 15, 1s).

Jesus sempre defendeu as mulheres, por mais que fossem mulheres pouco exemplares. Até chegar a dizer que os publicanos e as prostitutas entravam antes que os sumos sacerdotes no Reino de Deus (Mt 21, 31). Jesus defendeu uma famosa prostituta em casa de um conhecido fariseu (Lc 7, 36-50). Como defendeu o banho de perfume que Maria vez na ceia de homenagem que fizeram a Jesus (Jo 12, 1-8). Sabemos que, quando ia de povoado em povoado pela Galileia, o acompanhavam não apenas os discípulos e apóstolos, mas também muitas mulheres, entre elas a Madalena, da qual havia expulsado sete demônios (Lc 8, 1-3). Jesus sempre se colocou do lado dos cismáticos e desprezados samaritanos, até colocar como exemplo de humanidade um deles, frente à dureza de coração do sacerdote (Lc 10, 30-35).

Com isso, há elementos suficientes para se ter uma ideia do “escandaloso” que devia ter sido a tolerância de Jesus. Ser tolerante com os que vivem e pensam como cada um vive e pensa, isso não é senão senso comum. O problema está em saber com o que temos que ser tolerantes. E que coisas não se deve tolerar. Evidentemente, tocamos um tema extremamente difícil de precisar e delimitar com exatidão. Por isso, entendo que haja pessoas que entram no blog e expressam seus desacordos com o que eu escrevo. Entendo-os perfeitamente. E me parece que é bom que todo aquele que entrar neste blog se sinta com liberdade para dizer o que pensa, contanto que isso seja feito com argumentos e razões, nunca agredindo ou humilhando a quem não se ajusta com os meus pontos de vista. Mas com isso não tocamos no fundo do problema.

Eu creio que tudo depende daquilo que para cada um é “intocável”. Dado que estamos em um blog de teologia, a questão que, no meu modo de ver, teria que ser enfrentada é a seguinte: do ponto de vista do Evangelho, “o intocável” é “o religioso” ou é “o humano”? Penso que é fundamental, para um crente em Jesus Cristo, ter bem colocada e bem resolvida esta pergunta. Sabemos de sobra que, por salvaguardar os direitos da religião, às vezes, não se respeitam os direitos humanos. Por defender um dogma, se queimou o herege. Como por assegurar um critério moral, se meteu na prisão o homossexual ou se apedreja uma adúltera. É sintomático que os enfrentamentos, que, segundo os Evangelhos, Jesus teve e manteve, foram com pessoas muito religiosas, ao mesmo tempo que se deu bem com os grupos humanos que a religião depreciava ou perseguia. É evidente que, para Jesus, sua relação com o Pai do Céu era a questão central. Mas o que acontece é que Jesus entendia o Pai do Céu de forma que esse Pai não fazia diferenças. E por isso é o Pai que faz brilhar o sol sobre bons e maus; e manda a chuva sobre justos e pecadores (Mt 5, 45). Porque é humano necessitar do sol e necessitar da chuva. Coisas que, pelo visto e a juízo de Jesus, são mais que intocáveis que a “bondade” de uns ou a “maldade” de outros.

Que tudo isto entranha seus perigos? Sem dúvida alguma. Mas, pelo menos, me parece que é muito mais perigoso dividir-nos e enfrentar-nos por motivos religiosos, de forma que tais motivos justifiquem as mil intolerâncias que tornam a vida tão desagradável e até pode ser que cheguem a torná-la simplesmente insuportável. Isso prejudica a todos. E, além disso, faz mal – e muito – à religião. Por que, então a religião se tornou tão odiosa para não poucas pessoas, muitas das quais sabemos que são pessoas honradas? As religiões terão que pensar este assunto. E terão que fazê-lo urgentemente e com toda honestidade, se é que não querem ser atropeladas pela história ou abandonadas nas valetas dos muitos caminhos deste mundo.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=40492

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Existe "recuperação" para gays?

 “Pouco tempo atrás contei aos meus pais que eu era gay. Não pegou muito bem e eles me disseram que há algo psicologicamente errado comigo, que me criaram errado. Hoje minha mãe, meu pai e eu tivemos uma longa ‘conversa’ no meu quarto, na qual eles me informaram que eu devo me inscrever em um programa cristão fundamentalista para gays... É como um treinamento militar... Se eu sair ‘hétero’, ficarei tão instável mentalmente e deprimido que não terá importância”.
“Sou o melhor exemplo de que não existe ‘cura’ para homossexualidade”, conclui Sérgio Viula (co-fundador do Moses). A afirmação é corroborada pelo Conselho Federal de Psicologia. Na resolução 001/1999, o conselho trata a homossexualidade como “identidade”, não como “doença, nem distúrbio, nem perversão” e proíbe que psicólogos colaborem em “eventos ou serviços que proponham tratamento e cura” de LGBT.
Portanto, é ilegal qualquer “casa de recuperação” ou “tratamento de cura e libertação” promovidos por igrejas evangélicas com pseudoprofissionais. “A literatura científica não registra nenhum caso [de reversão]”, afirma João Batista Pedrosa, psicólogo e autor do livro “Segundo Desejo”, à revista “A Capa”. E diz mais: “estudos e pesquisas, entidades representativas e científicas de psicólogos nos EUA, na França, Espanha e no Brasil concluíram (...) [que] para que o indivíduo possa ser emocionalmente saudável e ter uma boa qualidade de vida é necessário que ele vivencie a sua verdadeira orientação sexual”.
As consequências da intolerância religiosa são dor e sofrimento. “Uso a psicoterapia há mais de 10 anos, hoje, estou com 18. Aos oito anos, um psicanalista ‘descobriu’ a minha homossexualidade, tentou revertê-la com psicoterapia e me impôs a obrigação de gostar de meninas”, diz Silva em depoimento a Pedrosa. Há três anos, ele entrou em um estado depressivo grave, com uso, inclusive, de remédios, já que ser gay “é um pecado muito grande no meio cristão”. “Somos encarados como leprosos e somos afastados de tudo e de todos”, lamenta o jovem.
Silva passou a sofrer de fobia social, depois com paranóia e “colapsos de pavor e somatizações, como: vômitos, falta de ar e taquicardia”. Tempo depois, trocado o psiquiatra por um neurologista, “a depressão atenuou a ponto de conseguir frequentar um psicólogo” - para o azar do rapaz – adepto a corrente dos que acreditam na “reversão sexual”. Silva era obrigado a assistir a filmes eróticos héteros para que “passasse a ter prazer com aquilo”. “Foi catastrófico”, diz. “Toda a minha depressão voltou”.
O jovem de 18 anos diz ser dependente de remédios e já ter tentado suicídio três vezes.
Além do dolo, beira a hipocrisia a promessa de “reversão” sexual. E revolta. “Uma vez criaram uma célula de homossexuais que se reunia na Tijuca [Zona Norte do Rio] para fazer uma espécie de terapia em grupo. Em vez de virarem heterossexuais, começou a rolar paquera”, diz Viula, ex-Moses. E continua: “Tinha gente que saía da reunião para namorar. Dentro do próprio apartamento que sediava os encontros aconteceram experiências sexuais”.
“Outra situação absurda ocorreu em um congresso da Exodus – grupo cristão internacional que combate a homossexualidade. Os caras paqueravam e ficavam juntos durante o evento”, revela Viula. “A mensagem da militância gay, que se reuniu na porta, era: ‘Nos deixem em paz’. Lá dentro dizíamos que Deus transforma. Mas quem estava no evento fazia o mesmo que o pessoal de fora”. E conclui: “Era uma incoerência total”.
“Do ponto de vista científico, é uma fraude [a promessa de reversão da orientação sexual], pois a psicologia não reconhece que seja possível”, afirma peremptoriamente Pedrosa, para lembrar da proibição, pelo conselho, que psicólogos utilizem tais práticas com pacientes. “O resultado é danoso. Os efeitos são severos distúrbios comportamentais e psiquiátricos”, alerta.
Uma das precursoras no movimento teológico inclusivo no Brasil, a Igreja Cristã Contemporânea milita para desconstruir o discurso religioso homofóbico. “Queremos levar a todos, inclusive ao público LGBT, que Deus não tem preconceito. Que tem um amor incondicional. Que nos ama tal como fomos feitos”, diz o pastor Marcos Gladstone, fundador e presidente da igreja. “É possível ter uma vida de amor e fidelidade com Deus e o companheiro – mesmo que do mesmo sexo”.
Mas a “luta” está só no começo. No último fim de semana, Gladstone e seu companheiro, pastor Fábio Inácio, foram vítimas de um vídeo criminoso, no Youtube, em que apareciam fotos do seu casamento, trilha de um forró tosco evangélico com o nome “Adão e Ivo”, de Antonio Jose Ferreira de Lima, o Toinho
de Aripibu(!).
Os pastores apresentaram denúncia contra o cantor Emanuel Ferreira de Albertin e o compositor – o Aripibu(!) - no MP-RJ (Ministério Público), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Superintendência de Direitos Individuais Coletivos e Difusos da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado do RJ e na Comissão de Combate à Intolerância Religioso por práticas de preconceito, discriminação e homofobia religiosa.
“Louvor é para adorar, exaltar, engrandecer, agradecer a Deus. Não para atacar o próximo”, lembra Gladstone. “E a democracia tem como prerrogativa a liberdade de expressão, como adoram dizer quem condena a homossexualidade. Mas é também do jogo democrático que respondamos por nossos atos, acusações e danos”.
A reportagem procurou, via e-mail, a Igreja Batista da Lagoinha - responsável pelo ministério “Deus se Importa” -, a direção do Moses e a Igreja Renascer em Cristo, citados nessa matéria. Até o fechamento da matéria, ninguém respondeu.


Por Notato Viegas
Redação
Igreja Cristã Contemporânea
Postado em 26/6/2010



FONTE: www.igrejacontemporanea.com.br

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sem Motivos Para Amar?



Existe amor que dure a vida toda, que a tudo perdoe e não se desanime? Existe amor que se renova todos os dias porque tudo sofre, tudo espera, tudo crê?

Minha ingênua e sincera fé diz que sim, mas muitas vezes [às vezes a maioria das vezes] o meu coração/razão/vontade não encontra tal amor... ou, se ele está lá... se cansa de tentar procurá-lo e fazer reviver um sentimento assim. Não por falta de forças ou de coragem, mas por falta de motivos.

Onde encontrar motivos para amar, então? É possível encontrá-los quando já não queremos ou temos medo de nos machucarmos de novo?

Talvez as perguntas estejam sendo feitas da maneira errada, mas não sem verdade existencial... Todo mundo procura por estes motivos de vez em quando... Eu gostaria que minha resposta fosse tão simples quanto procurar no “Google”, mas eu não tenho boas notícias sobre encontrar motivos para amar, geralmente nunca se acha um bom motivo para se fazer isto. É mais fácil [e menos complicado] não ter motivo para amar. Recusar-se a amar e trancafiar-se solitariamente dentro de uma torre alta ou mosteiro celibatário talvez seja a solução menos dolorosa.

Não amar evitaria comprometer o amor e a vida de mais algum inocente, quando, por exemplo, duas pessoas se amam e se deixam ser amadas, mas logo no início de suas caminhadas descobrem que é perigoso demais abrir o coração não só ao amor, mas às frustrações e confrontos que a vida a dois sempre causa. Ou, quem sabe, depois de muitos anos de caminhada juntos, descobrem que o motivo para se amar acabou faz tempo ou nunca, de fato, existiu. Donzelas amáveis e príncipes heróis encantados, cavalos brancos e o salvamento da princesa da torre são divertidos e empolgantes nas primeiras vezes, mas se torna enfadonho ter que se trancar na torre de novo para se proteger de uma dor ou de escalá-la perigosamente a fim de encontrar aventuras e motivações para amar todos os dias.

Não amar certamente anularia as dores e desilusões destes momentos, mas não é a decisão mais completa a ser tomada. Particularmente não creio que exista gente que foi feita para não amar; e também não creio em amor que vai e vem, que sobe e desce. Acredito no amor que fica, mesmo amassado, ferido, sozinho e nos faz ter esperança de ver hoje, no nosso agora dolorido, um horizonte amanhã, doce e ensolarado, talvez distante, mas alcançável de dias melhores, mais fáceis para se amar. Dificilmente encontra-se um bom motivo para amar persistentemente, mas quem disse que o verdadeiro amor precisa de motivos para ser amor?

O que me faz amar com vontade de amar não é o motivo, mas a consciência da existência inequívoca deste amor que está aqui dentro sem saber como. Não sei explicar, muito provavelmente ninguém conseguirá explicar, porque o amor é assim, mais forte que a morte, dolorosamente persistente, irrevogavelmente amante, paciente e benigno mesmo sem motivos. Já tentei entendê-lo, mas eu sei que só posso sentí-lo.

O bom e verdadeiro amor não precisa saber dos motivos, jamais os procura ou avalia se é possível ou não amar, só sabe que sente amor e pronto. Vai lá de peito e vida abertos. Ele lança fora todo o medo, ainda que se tenha de matar um leão por dia e a gente vá deitar cansado todas as noites.

O amor sobrevive mesmo é de mãos dadas com a fé e a esperança. O abraço dado, o beijo paciente, a presença carinhosa certamente são expressões do amor, são veículos para nos sinalizar que ele existe e nos dar novo ânimo, mas quando não os encontramos não significa que não podemos amar ou que nos faltam motivos. Dificilmente entenderemos ou reconheceremos o verdadeiro amor somente nos atos e gestos físicos. O amor manifesta-se em dom/dádiva, no que é dado sem buscar interesses próprios, nem mesmo os interesses de atender às nossas carências afetivas são válidos para buscar amar. O amor manifesta-se sem motivo aparente, até sem condições, vem como um rolo compressor ou uma simples brisa, mas vem.

É possível negligenciar o amor, fazer de conta que não existe ou abafá-lo. É possível ficar tão duro ao amor que, mesmo ele existindo, não se queria mais senti-lo. O medo da dor pode causar tudo isso, mas podemos escolher viver por medo e não deixar o amor em paz ou por fé e esperança e fazê-lo brilhar como um sol.

Amar é a capacidade de doar-se sem querer nada em troca, talvez por isso o Senhor tenha dito que, no final dos tempos, o amor se esfriaria de quase todos. Uma sociedade que luta por poder e prestígio, que compra todas as coisas, admiração e domínio, que concorre traiçoeiramente pelos melhores lugares e pisa em cima de qualquer ameaça não entende nem aceita dar sem querer qualquer coisa como pagamento. Pessoas que se amam, mas se interessam mais por disputar quem ama mais do que simplesmente amar, gente que não sabe amar só por amar corre o sério risco de ver esfriar a sensibilidade ao amor.

Logo, não existe pagamento para quem ama de verdade. E quem assim ama, não aceita tais trocas e barganhas. Continua dando, amando, crendo e alimentando a esperança não do fim, mas do recomeço pleno e movido pela alegria de simplesmente amar todos os dias, tudo sofrendo, tudo crendo e tudo esperando, até mesmo o ressurgir da sensibilidade de amar.

O Deus que assim ama te abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!
FONTE: http://www.ovelhamagra.blogspot.com/